terça-feira, 15 de março de 2011

Ensino Religioso em debate:muito além do simples sim e não.

Publicado pelo FONAPER em 11/03/2011

Por Luiz José Dietrich - Professor do Curso de Graduação em Ciências da Religião  - Licenciatura em Ensino Religioso na Universidade de Blumenau - FURB.

É no mínimo ingenuidade esperar que a formação religiosa dada pelas famílias e por algumas instituições religiosas favoreça a "descontrução de discriminações", conforme defende a Profa. Roseli Fischmann, na coluna Tendências/Debates, publicada na Folha de São Paulo, em 05 de março do corrente.
Basta observar as pregações de grupos cristãos demonizando e atacando as divindades cultuadas pelas culturas indígenas ou pelas religiões afro-brasileiras; ou levantando fundos para catequizar ou evangelizar culturas autóctones na América Latina e na África; ou o desejo de alguns setores da Igreja Católica Romana que, inspirados pelo "arquétipo" da religião oficial do Império, buscam manter privilégios por meio do Acordo Internacional Brasil-Santa Sé; ou pelo Ensino Religioso implementado em desacordo com o Art. 33 da LDB nº 9.394/96, através de convênios com dioceses católicas e alianças com organizações evangélicas e pentecostais; ou do pastor norte-americano que queria instituir a data do 11 de setembro como dia da queima do Alcorão; ou das imagens depreciativas da cultura e religião da Índia, que circularam na internet durante a exibição da novela "Caminho das Índias"; ou ainda toda celeuma que aflora diante dos debates sobre uniões homossexuais ou do aborto.
É claro que estas posições, atitudes e práticas não representam a totalidade das tradições ou grupos religiosos acima citados. No entanto, não é difícil de constatar que a intolerância religiosa tem se manifestado em diferentes espaços e lugares, nutrida pelo desconhecimento, preconceito e discriminação para com a crença ou não-crença do outro.
Promover o reconhecimento da diversidade religiosa é uma tarefa que se impõe a todos aqueles que desejam uma sociedade verdadeiramente democrática. É, portanto, dever do Estado e uma das tarefas da escola zelar pela liberdade de pensamento, crença e religião. Mas, para tal, é necessário que professoras e professores sejam formados e devidamente licenciados para abordar de forma científica a diversidade do fenômeno religioso.
Felizmente, em diferentes Estados brasileiros, existem iniciativas de formação inicial e continuada de docentes para agirem como "desconstruidores" da discriminação religiosa, tais como os cursos de Ciências da Religião-Licenciatura em Ensino Religioso oferecidos por universidades públicas e comunitárias.
Porém, diferentes meios de comunicação e pesquisas financiadas com verbas públicas insistem em ignorar ou esconder tais experiências, empobrecendo e manipulando um debate imprescindível à construção de uma sociedade pacífica e democrática.

Abaixo está o link para acessar a reportagem citada pelo Prof. Dietrich:
Aqui você ainda aprofunda a questão com outra entrevista da Profa. Fischmann para a Revista Nova Escola:

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