quarta-feira, 30 de março de 2011

Jornada de Estudos Paulo Freire na UFPE


 

APRESENTAÇÃO


A Cátedra Paulo Freire, criada através da Portaria nº 04/2005 do Conselho Universitário da Universidade Federal de Pernambuco, representa reconhecimento institucional, preservação da memória e espaço de produção e socialização da Pedagogia Paulo Freire.

Ela traduz o reconhecimento da comunidade acadêmica à relevante contribuição social, política e pedagógica do Educador Paulo Freire à humanidade, a partir da Educação, e, ao mesmo tempo, uma homenagem a um professor da Universidade, reconhecido internacionalmente e considerado como educador do mundo.

         Neste ano em que se comemora 90 ANOS DE PAULO FREIRE, a Cátedra Paulo Freire/UFPE para abrir as comemorações ao longo do ano, promove uma JORNADA DE ESTUDOS a realizar-se no dia 31 de março no Centro de Educação, Auditório Carlos Maciel.

            As inscrições poderão ser feitas na Cátedra Paulo Freire (sala 129) até o limite de 150 vagas.

A Jornada tem a Coordenação da Profa. Eliete Santiago e o apoio da Direção do CE.


PROGRAMAÇÃO

9h - Abertura
10h - Palestra: 90 anos de Paulo Freire e sua presença na sociedade brasileira
Palestrante - Professor Dr. Alder Júlio Ferreira Calado
11h – Dialogando com o Professor Alder Júlio Calado

14h - RODA DE CONVERSA: A presença de Paulo Freire nos Programas de Pós-Graduação em Educação do Nordeste
Prof. Dr. Agostinho Rosas - Tese defendida no PPGE/UFPB
Prof. Mestre Nelino Azevedo - Dissertação defendida no PPGE/UFPE
Profa. Dra. Sandra Borba - Tese defendida no PPGE/UFRN

16:30 - ENCERRAMENTO


quinta-feira, 17 de março de 2011

ESPAÇO DAS RELIGIÕES NO FÓRUM

 Enviado pelo crunicap em 16/03/2011.

Desde 2007 nós criamos na UNICAP uma série de encontros mensais com animadores das tradições religiosas da região, para conhecimento mútuo, exercício de tolerância cultural e veneração pluralista pelo sagrado. Pensando na educação mais ampla do nosso povo, queremos transformar essa experiência e conhecimento do Fórum Inter-religioso da Universidade em um subsídio pedagógico para o ensino religioso, mas também colaborar na criação de um Espaço das Religiões no Recife.
Convidamos a todos para, na próxima sexta, 18 de março, 17h, no auditório do CTCH (1º andar do bloco B) começarmos a discutir então a criaçao de uma fundação, o “Espaço das Religiões”, com base em centro cultural e centro de referência museológico no Recife, para tematizar o fenômeno religioso e as diversas experiências e manifestações espirituais e religiosas. O seu objetivo é de promover o conhecimento das tradições religiosas, o diálogo entre as religiões e a convivência entre os seguidores dos diversos caminhos espirituais. Trata-se de um espaço físico e existencial para esclarecer os diversos níveis de participação religiosa, do popular ao filosófico, enfatizando o conhecimento místico que se desenvolve entre e além das diversas expressões.
Participe e envolva-se na criação de um espaço que tem o apoio do Fórum Inter-religioso da UNICAP, mas vai para muito além dos muros da Universidade, porque destina-se à escuta, à celebração e à meditação sobre as vivências da fé da nossa gente, ajudando assim a fomentar uma sociedade pluralista e democrática.

Ensino Religioso-PE parabeniza a iniciativa e desde já confirma presença!

terça-feira, 15 de março de 2011

Ensino Religioso em debate:muito além do simples sim e não.

Publicado pelo FONAPER em 11/03/2011

Por Luiz José Dietrich - Professor do Curso de Graduação em Ciências da Religião  - Licenciatura em Ensino Religioso na Universidade de Blumenau - FURB.

É no mínimo ingenuidade esperar que a formação religiosa dada pelas famílias e por algumas instituições religiosas favoreça a "descontrução de discriminações", conforme defende a Profa. Roseli Fischmann, na coluna Tendências/Debates, publicada na Folha de São Paulo, em 05 de março do corrente.
Basta observar as pregações de grupos cristãos demonizando e atacando as divindades cultuadas pelas culturas indígenas ou pelas religiões afro-brasileiras; ou levantando fundos para catequizar ou evangelizar culturas autóctones na América Latina e na África; ou o desejo de alguns setores da Igreja Católica Romana que, inspirados pelo "arquétipo" da religião oficial do Império, buscam manter privilégios por meio do Acordo Internacional Brasil-Santa Sé; ou pelo Ensino Religioso implementado em desacordo com o Art. 33 da LDB nº 9.394/96, através de convênios com dioceses católicas e alianças com organizações evangélicas e pentecostais; ou do pastor norte-americano que queria instituir a data do 11 de setembro como dia da queima do Alcorão; ou das imagens depreciativas da cultura e religião da Índia, que circularam na internet durante a exibição da novela "Caminho das Índias"; ou ainda toda celeuma que aflora diante dos debates sobre uniões homossexuais ou do aborto.
É claro que estas posições, atitudes e práticas não representam a totalidade das tradições ou grupos religiosos acima citados. No entanto, não é difícil de constatar que a intolerância religiosa tem se manifestado em diferentes espaços e lugares, nutrida pelo desconhecimento, preconceito e discriminação para com a crença ou não-crença do outro.
Promover o reconhecimento da diversidade religiosa é uma tarefa que se impõe a todos aqueles que desejam uma sociedade verdadeiramente democrática. É, portanto, dever do Estado e uma das tarefas da escola zelar pela liberdade de pensamento, crença e religião. Mas, para tal, é necessário que professoras e professores sejam formados e devidamente licenciados para abordar de forma científica a diversidade do fenômeno religioso.
Felizmente, em diferentes Estados brasileiros, existem iniciativas de formação inicial e continuada de docentes para agirem como "desconstruidores" da discriminação religiosa, tais como os cursos de Ciências da Religião-Licenciatura em Ensino Religioso oferecidos por universidades públicas e comunitárias.
Porém, diferentes meios de comunicação e pesquisas financiadas com verbas públicas insistem em ignorar ou esconder tais experiências, empobrecendo e manipulando um debate imprescindível à construção de uma sociedade pacífica e democrática.

Abaixo está o link para acessar a reportagem citada pelo Prof. Dietrich:
Aqui você ainda aprofunda a questão com outra entrevista da Profa. Fischmann para a Revista Nova Escola:

sexta-feira, 11 de março de 2011

Ensino Religioso em Chapecó/SC

Publicado pelo FONAPER - Boletim 06/2011

A implantação do Ensino Religioso nas escolas de Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino de Chapecó/SC foi o assunto discutido em reunião realizada na Universidade Comunitária da Região de Chapecó-Unochapecó, com a participação de representantes de outras instituições.
No encontro, realizado por iniciativa do curso de Ciências da Religião: licenciatura em Ensino religioso, foi formulado uma proposta a ser encaminhada ao Executivo Municipal de Chapecó para que as escolas municipais passem a adotar recomendações da legislação educacional.
Com base no que é estabelecido na LDB (Art. 33), foi elaborado um projeto de lei municipal que será analisado pelo prefeito e enviado para votação pelo Legislativo. Esse projeto visa garantir o direito da oferta do conhecimento religioso no ensino fundamental da educação básica nas escolas públicas municipais de Chapecó.
O projeto também considera a Licenciatura em Ensino Religioso como habilitação necessária para a atuação na docência do Ensino Religioso. 
O vereador Ildo Antonini entende que o professor precisa ter o conhecimento específico na área para a construção do conhecimento religioso pelo aluno. “A inserção do ensino religioso desde o primeiro ano ajudará na formação pessoal do estudante”, diz o vereador.
Para a coordenadora do curso de Ciências da Religião: Licenciatura em Ensino Religioso, o curso prepara os futuros professores para compreenderem a diversidade religiosa presente no ambiente escolar. “Somente um profissional habilitado para ministrar a disciplina de Ensino Religioso poderá compreender as diferentes realidades”, argumenta a professora Teresa Dill.
O FONAPER parabeniza a iniciativa de mais um Município Catarinense assumir as determinações legais em relação ao Ensino Religioso, entendido como direito do aluno e dever da escola a respectiva oferta.

Fonte: Unochapecó

Ensino Religioso-PE também parabeniza a todos os envolvidos pela iniciativa!

FÓRUM NACIONAL DE TEOLOGIA DA RELIGIÃO DE MATRIZ AFRICANA E AFRO-INDÍGENA - FONATE

A partir deste mês até janeiro de 2013 entrará em atividades o FONATE – Fórum Nacional de Teologia da Religião de Matriz Africana e Afro-Indígena, que tem por objetivo “congregar nacionalmente e sob o lema ‘teologia não é uma teleologia judaica cristã e/ou católica’ adeptos da Religião de Matriz Africana e Afro-Indígena para discutir conceitualmente os pressupostos da Teologia dos Cultos Afros de forma a construir um estatuto epistemológico da referida Tradição Religiosa no Brasil inicialmente”. O FONATE espera, ao final das discussões, que sejam “formadas uma rede nacional de teólogos e teólogas da Religião de Matriz Africana e Afro-Indígena; elaboradas uma agenda comum de reflexão teológica que dê conta das questões inerentes a Religião Afro e da sua inserção política e social; produzidos artigos, ensaios, resenhas, relatórios, textos, etc., produzidos pelo FONATE e pela ATRAI; realizados seminários nacionais para a produção coletiva de conhecimento afro-teológico e constituídos fóruns nacionais e regionais de Teologia da Religião de Matriz Africana e Afro-Indígena”.

Para maiores informações acesse o link abaixo:

quarta-feira, 9 de março de 2011

Religião na escola

Publicado pelo Folha.com em 03/03/2011

por Hélio Schwartsman - articulista da Folha. Bacharel em Filosofia.

"O que são as histórias da Bíblia? Fábulas, contos de fadas?", pergunta a professora do 3º ano do ensino fundamental. "Não", respondem os alunos. "São reais!"
A cena, que teve lugar numa escola pública de Samambaia, cidade-satélite de Brasília, abre a reportagem de Angela Pinho sobre o ensino religioso no Brasil, publicada no último domingo na Folha. É um retrato perfeito da encrenca em que essa disciplina, que vem crescendo e hoje abarca mais ou menos a metade das escolas do país, nos lança.
Se as historietas bíblicas são reais, como quer a professora, então nós temos vários problemas. Procedamos por ramos do saber, a começar da física. De acordo, com Josué 10:12, Deus parou o Sol para que os israelitas pudessem massacrar os amorreus. Mesmo que eu não duvidasse da onipotência do Senhor, pelo que sabemos hoje de mecânica, nada na Terra sobreviveria a uma súbita interrupção de seu movimento de rotação. Em quem o aluno deve acreditar, no professor de religião ou no de ciência?
A física não o comoveu? Que tal a geologia? Pela Bíblia, a Terra tem cerca de 6.000 anos --5.771, a confiar nas contas dos rabinos. Pela geologia, são 4,5 bilhões. É difícil, para não dizer impossível, conciliar a literalidade das Escrituras com a existência de fósseis com idades substancialmente maiores que os seis milênios. Do lado de qual professor o aluno deve perfilar-se?
Talvez o problema esteja nas ciências "duras". Passemos às humanidades. A Bíblia, como todo mundo sabe ou deveria saber, é a fonte da moral, e os ensinamentos que ela traz nessa área são incontestáveis. Será? Em várias passagens, o "bom livro" autoriza ou mesmo manda fazer coisas que hoje consideraríamos horríveis, como vender nossas filhas como escravas (Êxodo 21:7) e assassinar parentes que abracem outras religiões (Deuteronômio 13:7). Se julgamos que a ética se aprende através de exemplos livrescos, sugiro trocar as Escrituras pelo mais benigno Marquês de Sade.
OK. Alguém pode argumentar que essa professora é uma exceção. Afinal, ela parece estar sustentando a inerrância da Bíblia, conceito que, no Brasil, é defendido por poucas religiões, notadamente adventistas e testemunhas de Jeová. Para as demais, as Escrituras não precisam e nem podem ser tomadas ao pé da letra.
Admito que essa mudança de discurso nos livra de algumas das dificuldades mais vexatórias --já não precisamos conciliar o criacionismo da Terra jovem com as aulas de ciência--, mas nem de longe acaba com elas.
Como já expliquei numa coluna antiga, embora seja em teoria possível juntar uma teologia um bocadinho mais sofisticada com a seleção natural neodarwinista, essa conciliação acaba resultando num Deus menos atuante, que cria as leis do universo e se retira. Ocorre que esse é o Deus de Newton e de Leibniz, mas não o das pessoas que vão a cultos. Para elas, um Deus que não ouve preces e não interfere nos destinos dos humanos é inútil. E esse Deus que elas querem --e que os sacerdotes pretendem colocar nas aulas de religião-- é, pelo menos no plano psicológico, incompatível com a ciência contemporânea que deveria ser ensinada nas escolas.
Não estou evidentemente sugerindo que as pessoas devam rifar Deus para ficar com a ciência. Essa é a minha opção, mas não acho que deva impô-la a ninguém. O simples fato de uns 90% da humanidade manifestar preferências religiosas é um bom indício de que essa é uma característica da espécie, como a tendência a gostar de música ou aquela quedinha por substâncias psicoativas. A verdade é que o ser humano tem algo de esquizofrênico. Só conseguimos conchavar crenças religiosas, que de algum modo acabam apelando ao impossível ou improvável, com o rigor lógico exigido pelo método científico, porque nosso cérebro está dividido em módulos. "Grosso modo", quando a parte responsável pelo pensamento lógico está ativa, inibe a área da religião, e vice-versa. Com esse mecanismo, as contradições, quando não passam despercebidas, tornam-se digeríveis.
Até para facilitar esse processo, não convém que religião e ciência sejam ensinadas no mesmo espaço. Para que a criançada aprenda desde cedo a distinguir o discurso do "lógos" (científico) do do "mythos" (religioso), é melhor que a escola trate apenas da ciência e que a religião fique a cargo dos templos.
Cuidado, não estou afirmando que não seja possível estudar a religião com ferramentas científicas. Em princípio, a sociologia, a antropologia, a psicologia e a neurociência estão aí para isso. Mas convém lembrar que estamos falando aqui de crianças de 6 a 15 anos, muitas das quais mal conseguem aprender português e as operações aritméticas básicas. Não me parece que a abordagem científica da religião deva ocupar um lugar muito alto na lista de prioridades. De resto, duvido que o lobby que advoga pelo ensino religioso esteja ansioso para ver a fé submetida a exame crítico.
Para além da cabeça da garotada, o ensino religioso na rede oficial também gera uma série de problemas institucionais. Como eu escrevi em texto que acompanhou a reportagem principal, a existência dessa disciplina em escolas públicas fere a separação entre Estado e igreja.
Pelo menos em teoria, o Brasil é um Estado laico. Não há religião oficial e o artigo 19 da Constituição proíbe expressamente o poder público de estabelecer cultos religiosos, subvencioná-los ou manter com eles relações de dependência ou aliança. É claro que a teoria soçobra antes mesmo de chegarmos ao artigo 19. O próprio preâmbulo da Carta invoca a "proteção de Deus", e o artigo 210 prevê o ensino religioso nas escolas públicas de ensino fundamental.
Vale aqui observar que a única Constituição verdadeiramente laica que tivemos foi a de 1891, que rompeu com a Igreja Católica e eliminou quase todos os seus privilégios. As que a sucederam reintroduziram o ensino religioso.
Embora doutrinadores gostem de dizer que não há contradição entre os artigos 19 e 210, é forçoso reconhecer que colocá-los lado a lado gera pelo menos um mal-estar. Não é o único. A diferença é que, ao contrário de outros estrépitos constitucionais, que conseguem passar relativamente despercebidos, esse está produzindo consequências.
Por considerar que o Estado não pode regular matéria religiosa sem romper sua neutralidade diante delas (que caracteriza o laicismo), o CNE (Conselho Nacional de Educação) optou por não fixar parâmetros curriculares nacionais para a disciplina. A decisão é institucionalmente correta (e constitui uma prova indireta do erro que foi colocar o ensino religioso na escola pública), mas gerou um deus nos acuda, onde cada Estado definiu ao sabor da conjuntura política local como a matéria seria ministrada.
As pesquisadoras Debora Diniz, Tatiana Lionço e Vanessa Carrião, em "Laicidade e Ensino Religioso no Brasil", traçam um panorama desse pequeno caos.
Pelo que elas puderam levantar, Acre, Bahia, Ceará e Rio de Janeiro optaram por um sistema confessional, que não se distingue da educação religiosa oferecida em escolas ligadas a igrejas. Não é preciso PhD em Direito para constatar que esse tipo de ensino afronta o dispositivo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação que veda o proselitismo no ensino religioso.
Os demais Estados menos São Paulo escolheram o modo interconfessional, no qual as religiões hegemônicas se unem contra as mais fracas e contra ateus e agnósticos para definir um núcleo de valores a ser ensinado aos alunos. Tampouco é um exemplo de defesa dos direitos das minorias.
Apenas São Paulo fez uma leitura um pouco mais crítica dos mandamentos constitucionais e se definiu pelo ensino não confessional. Pelo menos no papel, aqui as crianças têm aulas de história das religiões, no que é provavelmente a única forma de juntar sem produzir muitas fagulhas o ensino religioso com o princípio da separação entre Estado e religião.
Resta apenas responder porque a laicidade é assim tão importante. O problema com as religiões reveladas é que elas trazem absolutos morais. Se a lei foi baixada pelo Altíssimo, apenas querer discuti-la já representaria uma segunda ofensa contra o Criador. E utilizar absolutos na política --religiosos ou ideológicos-- é ruim porque eles a descaracterizam como instância de mediação de conflitos. O remédio contra isso, como já intuíram no século 18 os "philosophes" do Iluminismo francês e os "founding fathers" dos EUA, é a separação Estado-igreja. Ela facilita o advento da política como arte da negociação e, mais importante, favorece a noção de que minorias têm direitos que devem ser protegidos mesmo contra a maioria. Aqui, paradoxalmente, o laicismo se torna a principal força a proteger as religiões umas das outras.

Deseja ler mais artigos escritos por ele? Acesse aqui.

Caso tenha interesse em saber mais um pouco sobre a discussão do Ensino Religioso nas escolas veja o link "Artigos, Monografias, Dissertações e Teses sobre o Ensino Religioso" (canto esquerdo da tela).

Até breve!

sábado, 5 de março de 2011

Como abordar o tema sobre o Carnaval em sala de aula?

Publicado pelo FONPAER (Boletim 06/2011 de 04/03/2011)

O texto em anexo sobre o Carnaval na Educação foi elaborado pelo Professor Elcio Cecchetti, coordenador do FONAPER, como resposta à solicitação de entrevista da Editora Abril, de São Paulo. Gentilmente ele nos cedeu o mesmo na íntegra com o objetivo de auxiliar os Professores nas discussões sobre a temática, tanto para as aulas de Ensino Religioso como as demais.
Abaixo segue o texto publicado pela Editora Abril.
O Carnaval diz muito sobre a história do Brasil e da antiga sociedade europeia. Segundo algumas correntes, o Carnaval teria como marco inicial os cultos agrários de povos antigos como os egípcios, persas, fenícios e gregos. As comemorações marcavam o início da primavera, quando os povos dançavam ao redor de fogueiras, usando máscaras e adereços para a garantia de uma boa colheita.
A festa só surgiu como verdadeira prática pagã (sem crença religiosa) no Império Romano. Depois, foi incorporada ao calendário católico pela Igreja e chegou ao Brasil junto à colônia portuguesa. Aqui a comemoração foi encorpada pelas manifestações culturais dos negros escravos, a grande massa popular no Brasil do século 19. Todo esse conteúdo histórico pode ser transmitido em aula para os alunos.
Carnaval é uma delícia. Mas não pode atrapalhar a aprendizagem do seu filho. Se a escola substituir as aulas por uma festa, você tem o direito de reclamar. Ou pior: se a escola simplesmente cancelar as aulas, você não só pode como deve reclamar. Os 200 dias letivos a que seu filho tem direito não podem ser trocados apenas por um "oba-oba".
"Estávamos cansados de ver as crianças simplesmente pulando no salão", diz Rosana Gomes de Faria Mello, coordenadora de eventos do Colégio Nossa Senhora da Ressureição, em São Paulo . Ela conta que, abordando o Carnaval de forma divertida e educativa ao mesmo tempo, conseguiu reduzir - e muito! - as faltas no período. "Hoje os alunos praticamente não faltam mais na sexta-feira que antecede o feriadão", afirma.
Em muitas escolas, a festa é conteúdo para as aulas, e, ao invés de ser apenas um momento de descontração para os alunos (ou um pretexo para "matar aula"), mostra que é possível aprender brincando, dançando e cantando. "O Carnaval é um conteúdo de aprendizagem como qualquer outro, faz parte do currículo. Não trocamos um conteúdo por outro", diz Maria Andrade Antonieta Giovedi, diretora da Educação Infantil do Colégio Oswald Andrade, em São Paulo.  
Samba, bateria, desfiles, marchinhas, maracatus, sambas de roda, afoxés, frevo, entrudo, blocos de rua. Essas são algumas das manifestações da cultura popular brasileira que encontram no período do Carnaval o espaço certo para ocupar as salas de aula. Associadas ao conteúdo escolar, essas atividades mostram para os alunos valores culturais e históricos do Brasil que vão muito além do Carnaval mostrado na TV.
Para além das fantasias e máscaras solicitadas pelas instituições de ensino, será que o valor simbólico do Carnaval é realmente percebido e transmitido para o seu filho? Pensando nos temas culturais que envolvem o carnaval no Brasil, faz parte da aprendizagem escolar desmistificar lendas associadas ao Carnaval e matar a curiosidade dos alunos com relação aos seus símbolos culturais e históricos. Mas como fazer com que a comemoração do Carnaval não comprometa a aprendizagem dos alunos? Leia abaixo algumas dicas para transformar o Carnaval em conteúdo educativo de verdade, e não apenas em uma festa sem siginificado.

Veja em anexo, texto na íntegra.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Fazemos nossas as suas palavras Prof. Gilbraz!

Publicado no crunicap.blogspot.com (02/03/2011).

CUIDADO COM A MAGIA NEGRA


Está nos jornais de hoje que a “polícia prendeu dois homens e uma mulher que esquartejaram professora em ritual de magia negra”. Pois bem, resumindo, a professora Maria Iracema de Morais foi assassinada em suposto ritual de magia negra. Os acusados são o pai de santo Paulo Vitor de Araújo, a mãe de santo Elizabete de Lima e o filho de santo Ailton Félix . De acordo com a polícia, Paulo Vitor teria injetado uma substância na professora durante um ritual no terreiro Axé Ilê de Maria Padilha, no bairro do Cordeiro, no Recife. Adormecida, Maria Iracema foi levada até Surubim, onde foi queimada três vezes e esquartejada. Seus restos mortais foram jogados em um açude. A faca utilizada no crime foi partida em três pedaços, que foram jogados no mesmo local. Pronto: é Magia! E da Negra! Que falta faz um cursinho de história das religiões e de cultura religiosa pra essa gente...

Pois quem estuda um pouco os fenômenos religiosos sabe que a interpretação dada ao fato está equivocada. Não é a primeira vez que a polícia e a imprensa, no Recife e alhures, atribuem assassinatos macabros a “rituais de Magia Negra”. Se os próprios assassinos explicam-se assim, estão abusando da religiosidade: Magia Negra (ou Satanismo) é uma tradição espiritual criada pelos gringos nos Estados Unidos, cujos ritos (que não incluem mortes) dificilmente estariam sendo praticados na periferia da nossa cidade. Se os policiais e jornalistas, por sua vez, associam nomes africanos e títulos de terreiros afro-brasileiros com a Magia Negra, eles são ignorantes e/ou colaboram para reforçar a secular criminalização do Xangô-Candomblé ou da nossa Umbanda e Jurema, como coisas ruins e perversas: saibam que a religião dos negros não mata gente! Os Nagô e Bantu na África, que legaram a matriz da religiosidade negro-brasileira, sacrificam animais para os espíritos da natureza. Na África não se matava mais gente para as divindades do que entre os seus avós de olhos azuis lá na Europa, ou os nossos antepassados astecas aqui na América - mas trouxemos os negros como escravos, para morrerem de trabalhar, e ainda acusamos os seus remanescentes de possuírem uma cultura assassina: piedade!

Dito isso, vamos desmistificar também a tal Magia Negra (que não é a religião dos negros, pelo amor de Deus, mas de loiros!). Primeiro, esse Culto do Diabo não deve confundir-se com a Wicca ou qualquer outra forma de paganismo. Os pagãos ou neopagãos praticam uma religião natural em que não participa a figura de Satã, que é bíblica. Depois, em verdade o Satanismo começou como uma crítica “contra-cultural” à doutrina, simbolismo e prática do cristianismo, cuja civilização ele acusa de corrupta e hipócrita - e por isso recorre ao símbolo negativo dos cristãos como seu ícone de sabedoria (“a Chama Negra”), buscando inspiração na divindade Set (arquétipo da rebeldia provocadora, que a bíblia associa ao mal, como Satã). Há jovens rebeldes que utilizam elementos generalistas do Satanismo, através da imagética gótica ou da cultura musical do rock (como o simbolismo do crucifixo invertido), para manifestar a sua oposição à sociedade cristã ou mesmo justificar o seu comportamento antissocial.

Porém, o Satanismo contemporâneo tem mesmo a ver é com a Igreja de Satã, de Anton Szandor LaVey (falecido em 1997), que no dia 30 de abril de 1966, na Califórnia, declarou-se o “papa negro” e anunciou a Era de Satã. Em suas “cavernas”, realizava casamentos satânicos para celebridades e batizados satânicos de crianças. LaVey escreveu a Bíblia Satânica (1969) e Os Rituais Satânicos (1972). Critica o cristianismo por renegar os apetites “animais” da humanidade e estimula o “darwinismo social”, a subjugação dos fracos. Uma apostasia dessa Igreja, em 1975, por Michael Aquino, oficial do exército norte-americano, fundou o rival Templo de Set: insiste em que o intelecto interrogador dos humanos não resulta da simples evolução animal, mas é dádiva de Set à humanidade. O Templo de Set, numa via espiritual de estilo iniciático e gnóstico, procura exercitar esse dom, lançando ceticismo à sabedoria das religiões instituídas. Em seus “pilares” ou igrejas, atribui especial importância à magia ritual e cerimonial, pois, como explicado no livro de Aquino, Magia Negra em Teoria e Prática (1992), ela aumenta o poder subjetivo e potencia a nossa vontade sobre o universo. 

Uma coisa é a gente não concordar com esse caminho de Magia Negra ou Culto ao Diabo, mas daí a "demonizar" seus seguidores e associar-lhes todos os crimes cometidos em recintos religiosos; daí, mais ainda, a vincular esses "crimes da Magia Negra" (sem lógica que justifique) aos terreiros afro-negro-brasileiros, é uma maldade - ingênua ou maliciosa  - de "almas sebosas" não tão alvas quanto imaginam. Então, professores, jornalistas, delegados (e assassinos também!), vamos ter um pouco mais de cuidado com a Magia Negra. Não cuidado no sentido do medo e da execração, mas do respeito e da consideração por uma tradição espiritual que compõe o patrimônio imaterial da humanidade. Religião, como toda experiência de conhecimento humano, tem sempre um lado sombrio na sua tentativa de nomificar o cosmos e organizar a vida - e sacrifícios, inclusive humanos, faziam e fazem parte do seu repertório. Mas a Magia Negra é algo mais sério e mesmo sublime do que imagina a vã criminologia popular. Portanto, por obséquio, parem de usar “Magia Negra” para nomear o comezinho ritual humano de sacrificar o próximo! Pois isso se faz, prática ou simbolicamente, com obssessão "religiosa" até, em altares de todas as cores, denominações e repartições. Ou não é?!
Gilbraz Aragão.

quarta-feira, 2 de março de 2011

O fracasso do multicultural

Publicado no Instituto Humanitas Unisinos (01/03/2011)

Fala-se muito do fracasso do multiculturalismo. Uma afirmação que muitos pronunciam com complacência, sem, porém, indicar qual perspectiva o substitui ou deveria substituí-lo. É verdade ou é um estratagema para alimentar temores e intolerâncias a serem instrumentalizadas politicamente?

A análise é da antropóloga italiana Anna Casella Paltrinieri, professora da Università Cattolica del Sacro Cuore, em artigo para a revista Popoli, 14-02-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.
Angela Merkel começou há algum tempo, agora David Cameron, da Inglaterra, lhe faz eco. No meio, houve as revoltas das banlieau parisienses, os "repatriamentos" dos membros da comunidade rom romenos, as fogueiras nos campos nômades. Muitos começam a difundir a ideia: o multiculturalismo fracassou, as sociedades não podem suportar muitas diversidades culturais, a convivência pacífica entre povos e grupos pertence aos contos fabulescos, mas não responde à prova dos fatos. Verdadeiro? Falso? A questão não é acadêmica e não é de pouca importância. Convém pensar acima disso.

Não há a necessidade de ser estudioso de ciências sociais para observar nas nossas cidades, até nas menores, a presença de pessoas que vêm de todas as partes do mundo. As estações, as ruas dos centros históricos, as periferias estão há muito tempo "coloridas". Os nossos filhos têm colegas de escola chineses, africanos, latino-americanos. As cuidadoras dos nossos pais continuam sendo, em grande parte, ucranianas, romenas, russas, as empregadas filipinas, os operários nos canteiros de obras, africanos. O multiculturalismo, portanto, é um "fato", não uma teoria ou uma opção, uma questão de gostos. E, nas nossas sociedades, o multiculturalismo é um "fato" a dezenas de anos.

Então, o que fracassou? Talvez, como diz (a meu ver, justamente) o sociólogo Franco Ferrarotti, não fracassou o multiculturalismo, mas sim as políticas e as teorias sobre o multiculturalismo. Fracassaram aquelas teorias da convivência multiétnica que se revelaram incapazes de compreender e governar as sociedade multicultural. Fracassaram as políticas colocadas em ação pelos Estados para governar (ou mais frequentemente para exorcizar) a presença de pessoas com outras tradições e outros valores.

A visão britânica da sociedade multicultural continua, porém, no esquema do Commonwealth e, assim, pressupõe um pensamento que não coloque em discussão a supremacia política e cultural do mundo inglês, diante do qual as outras culturas só podem ser subalternas e "funcionais". A visão francesa assimilacionista se rege sobre a necessidade de tornar totalmente privada e individual a pertença cultural. Privadamente, você pode ser árabe, curdo, ganense. Em público, você é um cidadão, anônimo e incolor. Um laicismo abstrato (do qual a França é mestra até naquilo que concerne à pertença religiosa), absolutamente incapaz de compreender o estado de ânimo e a cultura do povo das banlieau. E a visão alemã, tão radicada no binômio "sangue e solo", pensa em uma inviolabilidade do seu próprio território sobre o qual os "outros" só podem ser hóspedes.

Essas teorias mascaram todas as ideias arcaicas de uma hierarquia das culturas, da qual descendem, como estamos bem vendo, práticas políticas e jurídicas que sustentam a legitimidade de uma hierarquia dos direitos e do acesso aos recursos. Assim, muitas políticas sobre o multiculturalismo (por exemplo na Itália) são pensadas em função da defesa do perigo representado pelos outros.

O medo (Thomas Hobbes ensina) torna-se o critério da vida associada, e o Estado, o protetor da nossa tranquilidade. Na realidade, se olharmos para a história, quando se verificou o conflito entre povos, entre comunidades, não era só por causa da diversidade cultural. Nesse caso, ocorreu porque, sobre essa diversidade, construíram-se projetos políticos que avantajavam alguns e puniam outros, porque as diferenças se radicalizaram e se tornaram intoleráveis, porque se construíram esquemas de pensamento sobre os "outros" e se pretendeu que fossem definitivos, porque se deixou que visões anti-igualitárias, frequentemente racistas, circulassem livremente na opinião pública.

A diversidade cultural é, parece-me, uma das variáveis da diversidade humana (junto com a diversidade de gêneros, de religiões, de capacidades pessoais, de idade...). Assim como as outras, deve ser tratada dentro de um esquema que tenha bem sólidos os princípios da dignidade da pessoa, da justiça, da liberdade e da igualdade. É um desafio democrático, não o fim da democracia.

Para saber mais um pouco acesse:

- Todos somos multiculturais (Entrevista com Tzvetan Todorov) http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=38921 ;
- O cardeal Gianfranco Ravasi e o multiculturalismo: melhora a interculturalidade http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=40687 .

Então, qual a sua opinião? Somos realmente seres multiculturais como afirma Todorov? A multiculturalidade (e possivelmente essa discussão chegará aqui no Brasil e dará muito "pano pra manga") chegou ao fim? Quais os pontos que você destaca (após a leitura dos textos) para a ocorrência destas discussões? A interculturalidade seria a melhor opção como defende o cardeal Ravasi? Participem!

Abração
Barroca

Grupo de Estudos - Religiões, Identidades e Diálogo

Na última segunda-feira (28/02) teve início, no 7. andar do bloco G4, da UNICAP, às 09h00m, o grupo de estudos sobre religiões, identidades e diálogo coordenado pelos professores Aurenéia Oliveira (UFPE), Drance Elias, Gilbraz Aragão, Sérgio Sezino e Zuleica Dantas, todos professores do Mestrado em Ciências da Religião da UNICAP.
O grupo se propõe, partindo da constatação da complexidade de performances do cenário religioso atual, a analisar os novos deslocamentos religiosos na atualidade, dando ênfase às várias tentativas de configuração de diálogo inter-religioso, bem como às novas gramáticas constitutivas das identidades religiosas neste contexto. O grupo possui duas linhas: Identidades religiosas e Diálogos inter-religiosos.
A primeira discussão foi realizada a partir de três capítulos do livro "O peregrino e o convertido", da Profa. Danièle Hervieu-Legér. Estiverem presentes alunos e ex-alunos das Ciências da Religião, da Licenciatura em História e do doutorado em Antropologia (UFPE).

Harmonia entre as religiões

Na semana passada, em uma Sessão Especial da Câmara Municipal de João Pessoa/PB, o Grupo Videlicet Religiões, da Universidade Federal da Paraíba lançou oficialmente a "CARTA PELA HARMONIA ENTRE AS RELIGIÕES E PELA CRIAÇÃO DO FÓRUM PARAIBANO DA DIVERSIDADE RELIGIOSA".  De acordo com o documento, "nenhuma sociedade pode ser substancialmente democrática se não há o respeito aos credos religiosos..."

Quem quiser aderir às propostas da carta deve enviar um e-mail para o Prof. Carlos André no seguinte endereço: videlicet.ufpb@gmail.com . Para ler o conteúdo do documento na íntegra acesse http://www.fonaper.com.br/noticias/27_carta_harmonia_entre_as_religioes_def_17.2.2011.pdf

terça-feira, 1 de março de 2011

Cartilha da Diversidade Religiosa e Direitos Humanos

É com imenso prazer que, celebrando a criação deste espaço de construção de (novas) alternativas para a prática do Ensino Religioso (ER)  nas escolas públicas e privadas do Estado de Pernambuco, disponibilizamos (link abaixo) a Cartilha da Diversidade Religiosa e Direitos Humanos desejando que a sua utilização, como uma das inúmeras ferramentas para desenvolver o ER, permita que novos olhares sejam direcionados para o respeito ao ser humano.

Um grande abraço
Barroca